Como lidar com o ‘ideal inatingível de felicidade’ das festas de Ano Novo

Ao falar desse período, a psicanalista Gabriela Vargas acha importante contextualizar: vivemos em uma sociedade pós-moderna, que o filósofo Byung Chul-Han define como uma sociedade de positividade. Antigamente, para o Michel Foucault, vivíamos em uma sociedade disciplinar, que dizia ‘você deve isso ou aquilo’ e tinha muitos ‘nãos’. Agora estamos na sociedade do ‘sim’, então ‘sim’ você pode fazer o que quiser; se você não conseguiu algo é porque não tentou o suficiente; ‘sim’ você tem que ser feliz porque todo mundo posta foto feliz.

“O grande problema disso tudo no final de ano é que, além de essas datas serem extremamente comerciais, existe algo que tortura quem não tem relação com a família, quem perdeu alguém, tem muitas cicatrizes e dores. Muitas pessoas passam sozinhas, tem gente que passa fim de ano internada em hospitais sem receber visitas”, explica Vargas.

“De um lado tem o padrão da família heteronormativa em volta da mesa fazendo ceia, e do outro vivemos numa realidade de desigualdade gigantesca, então tem famílias que não têm dinheiro nem para comer o básico, muito menos para fazer ceia ou comprar presentes que estão na moda para crianças. Esse é um grande problema que pode trazer muito sofrimento psíquico, ainda mais com o aumento do desemprego”.

Vargas, que tem um projeto chamado Corpo Inconsciente – sobre psicanálise e transtornos alimentares -, também destaca sobre como vivemos em uma sociedade que não aceita diferenças e onde o diferente é cancelado em vários âmbitos.

“Para quem tem distúrbios alimentares é muito difícil comer nas festas de fim de ano, e isso dificulta passar com muita gente. É uma época de calor no Brasil, então tem a exposição do corpo submetido aos comentários do tio do pavê que pergunta se engordou ou emagreceu. Ou se casou e teve filho. Enfim, todos aqueles comentários maldosos nessas reuniões que fazem as pessoas sofrerem”.

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